terça-feira, 6 de junho de 2017

Cerveja Artesanal - Cevada no Brasil – artigo 015

Primeiros antecedentes da cevada e suas histórias.
Os grãos marcantes da história humana são o milho (origem, México), o trigo e a cevada (Iraque) e o arroz (China).
O mais interessante dos grãos que a cevada sempre esteve junto na história alimentar com o trigo.
Grãos de cevada com 2500 anos.
A domesticação de plantas e dos animais são a grande diferença que fizeram a humanidade dar um salto em seu desenvolvimento e o controle e transformação da cevada, mas o malte foi o que faz o homem um ser mais coletivo.
Bebida de cevada dos egípcios
A cevada cultivada (Hordeum vulgare) é descendente de cevada selvagem ( Hordeum spontaneum ), que cresce no Oriente Médio.
Ambas as espécies são diplóides (2n = 14 cromossomas). Seu cultivo no Egito antigo foi um importante marco no desenvolvimento para o mundo civilizado; no livro do Êxodo, existe citações com relação às pragas do Egito.
Plantação e colheita antiga Espanha. 
A cevada era conhecida pelos gregos e romanos, e era usado para fazer pão, que inclusive era base alimentar e a força dos gladiadores romanos.
Na Suíça foi encontrado restos carbonizados de bolos feitos com grãos de cevada moído ainda grosso e trigo que datam da Idade da Pedra.
Por muitos séculos os mais ricos fabricavam seu pão com trigo, e os mais pobres usavam a cevada para produzirem seu pão. 
Como trigo e aveia se tornou mais acessível, a foi retirada da produção do pão.
Cristóvão Colombo trouxe sementes de cevada na sua segunda viagem, sendo semeada, pela primeira vez na América, em 1493. Posteriormente, foi introduzida no México, em 1500.
Chegada de Cristóvão colombo na America
Trigo foi introduzida na América pelos colonizadores espanhóis.
Um escravo de Hernán Cortés, tinha três grãos de trigo que se encontravam em um saco de arroz enviadas a partir de Espanha, bem conservado e foi plantados em 1529.
Destes três grãos o trigo chegou no Novo Mundo.
Mas a Cevada é difícil definir a sua data inicial de cultivo na América do Sul.
De acordo com os "Comentários Reais, sobre a história do Peru, do Inca Garcilaso de la vega (1580): "a cevada deve ter chegado junto com sementes de trigo, já que é difícil de separá-la do trigo".
Colheita de trigo por mulheres Peruanas
Em 1556, seu uso era bastante comum no Chile, tendo o município de Santiago do Chile sido obrigado a decretar um preço máximo de venda, que era de "12 reales la fanega."
A data inicial do cultivo desse cereal na América do Sul, tenha sido no momento da fundação do Forte Sancti Spiritus, na atual província de Buenos Aires (Argentina), pelo italiano Sebastían Gaboto, junto com o primeiro registro de semeadura de trigo no território argentino, em 1527 (TOMASSO, 1993).Isso leva a crer que a cevada foi introduzida junto com sementes de trigo.
Depois da conquista do Peru, em 1531, os cultivos de trigo e de cevada eram muito conhecidos na América.
A cevada se expandiu pelos Andes, substituindo o “trigo” dos incas: Amaranthus e quinoa (ÁRIAS, 1995).
Em 1556, sua utilização já era muito comum no Chile, onde havia, até mesmo, um decreto de preço máximo de venda a ser cobrado pelo grão, no Município de Santiago do Chile (ÁRIAS, 1995).
A primeira referência à cultura de cevada no Brasil foi em São Paulo em 1583.
E quatrocentos anos depois já em 1854, se menciona como "um cultivo estabelecido nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul".
Colheita dos primeiros colonos alemãos
Em 1584, Frei Cardim relata o primeiro cultivo de cevada em território brasileiro, no atual Estado de São Paulo (ÁRIAS, 1995).
Também nesta mesma época, o frei Vicente de Salvador faz referências à extensão da cultura para regiões mais ao sul, principalmente em virtude das temperaturas mais amenas e da maior umidade.
Depois desses primeiros cultivos na América, e com a chegada de grupo de imigrantes do continente europeu, principalmente alemães e italianos, trouxeram suas próprias sementes de cevada.
Com isso, ocorreu naturalmente a ampliação da variabilidade genética do cereal, tanto por cruzamentos naturais e mutações quanto por seleção natural. 
Na Argentina, no Chile, no Brasil e, especialmente, nos países andinos consolidaram-se populações locais de trigo e cevada (ÁRIAS, 1995).
No Rio Grande do Sul, a cultura foi referida como estabelecida por Hildebrand somente no ano de 1854, em colônias alemãs, principalmente por causa da sua maior resistência à ferrugem, em comparação com a cultura do trigo.
Hildebrand refere-se à cevada como um cultura estabelecida nas colônias alemãs no Rio Grande do Sul, em 1854, afirmando ser a cevada mais resistente à ferrugem que o trigo.
Não sabemos a que ferrugem se referia, mais neste estado, tanto a ferrugem do colmo como a da folha, tem menor importância na cevada que no trigo.
Muito pouco resta das cevadas cultivadas pelos primeiros colonos.
Apenas 6 variedades coloniais foram selecionadas pela Cervejaria Continental de Porto Alegre nas colônias italianas, nos anos quarenta.
No sul do Brasil, o uso de cevada existia já em forma artesanal em meados do século passado.
A historia mais atual da Cevada no Brasil
As cervejarias locais faziam o próprio malte com cevada produzida na região.
O início dos trabalhos de melhoramento genético na América do Sul ocorreu no Uruguai, em 1912, e foi realizado por Alberto Boerger e Enrique Klein com a seleção de linhas puras de cevada resistentes à ferrugem-da-folha, a partir de populações conduzidas pelos colonos da época.
Pouco mais tarde, com base no mesmo princípio, iniciou se o melhoramento da cevada na Argentina e no Brasil (ÁRIAS, 1995).
Cervejaria Canoinhense é a microcervejaria mais antiga do Brasil em funcionamento desde de 1908, utilizava dessa cevada da região.
No Brasil nos anos vinte as primeiras pesquisas e ensaios foram realizados pelo agrônomo austríaco Carlos Gayer, juntamente com os de trigo, na Estação Experimental "Alfredo Chaves", em Veranópolis.
Armazenamento da cevada nos anos vinte
A Cervejaria Continental instalou o primeiro Campo Experimental de Cevada no Brasil em 1941, em Gramado, RS.
Em 1950, a Companhia Antárctica Paulista contrata a renomada empresa sueca Weibull produtora de variedades melhoradas, para obter variedades adaptadas de cevada cervejeira.
A Weibull iniciou seus trabalhos em Carazinho e, durante 20 anos, introduziu material segregante de seu programa europeu de melhoramento de cevada. Como muitas variedades suecas eram tolerantes à acidez tóxica, começaram a selecionar variedades adaptadas.
Cevada úmida sendo preparada ser assada para virar malte 
Posteriormente, a Companhia Cervejaria Brahma que tinha adquirido a Cervejaria Continental de Porto Alegre se associou à Weibull para ampliar a pesquisa de cevada. 
O professor Cláudio Barbosa Torres, Gerente de Fomento e Pesquisa desta Companhia, mudou a Estação Experimental de Cevada de Gramado para Encruzilhada do Sul, visando selecionar material segregante em solo com acidez. 
De 1968 até 1994, a nova Estação Experimental foi dirigida pelo engenheiro-agrônomo Arlindo Göcks. Foi ele quem realizou os primeiros cruzamentos com cevada no Brasil, em 1964.
Atualmente, o programa de melhoramento dessa empresa é dirigido pelo engenheiro-agrônomo Alessandro Sperotto.
Em 1970, a Weibull do Brasil resolveu encerrou suas atividades e distribuiu o material segregado entre as duas companhias cervejeiras.
Assim, a Companhia Antarctica Paulista também começou seu próprio programa de melhoramento em Papanduva, SC, que foi transferido em 1975 para Paulo Frontin, PR e em 1995 para a nova Estação Experimental da Lapa, PR.
O programa foi dirigido no início pelo dr. Gianpiero Baldanzi e atualmente é coordenado pelo engenheiro-agrônomo Noemir Antoniazzi.
A Companhia Cervejaria Brahma lançou a cultivar Continental FM 404, seleção de um material de Weibull de origem desconhecida, que foi cultivada de 1974 até 1987.
E a Companhia Antarctica lançou a cultivar Antarctica 01, seleção da cultivar alemã Breuns Volla, cultivada até1968 em todas as regiões e até 1986, em Guarapuava..
Nos anos 80, as variedades mais difundidas foram FM 519 da Cia Brahma (até 1990) e Antarctica 5, de 1982 até 1993.
A partir de 1977, a Embrapa Trigo iniciou um programa de melhoramento de cevada cervejeira. Tendo lançado as variedades BR 1, BR 2, Embrapa 43,
Embrapa 127, Embrapa 128 e Embrapa 129. As cultivares BR 2 e Embrapa 43, ocuparam 90% da área cultivada em 1997.
Cevada especial da Embrapa
O plano nacional de auto-suficiência em cevada e em malte (PLANACEM) criou incentivos para aumentar a capacidade das maltarias e financiou a compra da produção por parte da indústria. 
A área cultivada com cevada no Brasil aumentou de 6.703 ha, em 1973, até um máximo de 160.550 ha, em 1982. 
O rendimento médio era de 1031 kg/ha, nos anos 70. A superfície de cevada se estabilizou em torno de 100.000 ha e o rendimento médio nos anos 80 foi de 1478 kg/ha. Esta linha de financiamento encerrou em 1982, prejudicando significativamente a produção nacional de cevada e de malte.
De 1992 a 1994, a oferta de malte subsidiado da União Européia foi um limitante a mais para a produção de malte nacional. 
A partir de 1991 os preços de cevada começaram a sofrer uma queda e por conseguinte por volta de 1993 começaram a baixar também os preços do malte, devido principalmente aos subsídios praticados na União Européia. Em conseqüência, a superfície semeada diminui até 53.269 ha, em 1994.
A melhora dos preços internacionais e a difusão da variedade BR 2 da Embrapa Trigo contribuíram para aumentar a superfície cultivada até 125.000 ha, com um rendimento médio de 2.268 kg/ha, nos últimos dois anos.
Localização das plantações da cevada no Brasil
Mapa de localização dos plantadores de cevada no Brasil
A produção brasileira está concentrada nos estado do sul, com alguns registros de cultivo em Goiás e Minas Gerais.
Na década de 1990, o estado do Rio Grande do Sul foi o maior produtor (66,8% da produção total do país), no entanto, na década seguinte o Paraná passou a ocupar esta posição (49,8% da produção).
No período de 2007-2011, 55,0% da área de cultivo concentrou-se no Paraná (62,6% da produção), 42,4% no Rio Grande do Sul (34,9% da produção) e 2,6% em Santa Catarina (2,5% da produção).
No Rio Grande do Sul, a produção está concentrada em duas regiões distintas: a região Norte, especificamente nas microrregiões geográficas de Passo Fundo (18,3% da produção do estado) e de Erechim (9,7%) e, na região central do estado, nas microrregiões de Santiago (10,5%) e Cruz Alta (9,7%). 
Em Santa Catarina o cultivo concentra-se nas microrregiões de Canoinhas (57,6%), Curitibanos (26,5%) e Xanxerê (11,5%).
No Paraná, a produção se concentra na região centro-sul do estado, nas microrregiões de Guarapuava (67,5%) e de Ponta Grossa (12,3%).
Cultivos sob sistema irrigado tem apresentado rendimento médio ao redor de 5.500 kg/ha, superiores a média nacional da última década próximo a 2.600 kg/ha.
Em geral, os cultivos irrigados do cereal estão localizados em São Paulo, nos municípios de Paranapanema, Itaberá, Itapeva, Itaí e Taquarivaí.
Dentre os 135 municípios que tiveram registro de cultivo de cevada em 2010, os municípios de Guarapuava (PR), Palmeira (PR), Pinhão (PR) e Candói (PR) se destacam pelas maiores áreas colhidas e quantidades produzidas de cevada.
Em termos de rendimento, os municípios de Ibiraiaras (RS), Candói (PR), Guarapuava (PR) e Pinhão (PR) apresentaram os maiores rendimentos registrados.
cervejariatosca@gmail.com

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