A Andrade Gutierrez está arrendando o estaleiro Mauá, um dos ícones da indústria naval brasileira, cuja história começou em meados do século XIX pelas mãos do maior empresário do Brasil Imperial, o Barão de Mauá. O estaleiro, uma das principais instalações para construção e reparo de plataformas do Estado do Rio, é controlado pelo Grupo Synergy, de German Efromovich, que nos últimos anos tem enfrentado a Petrobras em várias disputas comerciais.
Os contenciosos com a estatal estariam, segundo fontes do setor, entre as razões para que Efromovich tenha decidido transferir a operação do estaleiro para uma empresa concorrente no setor de óleo e gás. Procurado, o empresário não foi localizado. A secretária de Efromovich disse que ele se encontra de férias no exterior e não poderia ser localizado. Uma fonte da área naval confirmou, porém, que há cerca de três meses Efromovich começou tratativas para o arrendamento do Mauá com altos executivos da Andrade. O outro estaleiro do Grupo Synergy, o Eisa - Estaleiro Ilha, do Rio, está fora do negócio.
O Valor apurou que a Andrade Gutierrez deve assinar com o Mauá contrato de arrendamento de longo prazo com opção de compra - ao final do período - das instalações do estaleiro. Situado na Ponta d'Areia, entre um maciço de pedra e a Baía de Guanabara, em Niterói (RJ), o estaleiro tem 180 mil m2 de área no local, outras duas unidades nas ilhas do Caju e da Conceição (Niterói) e de um terreno com saída para a baía em São Gonçalo.
As instalações do Mauá serão importantes na estratégia da Andrade de posicionar-se no Rio para atender o mercado offshore. A empresa está transferindo integralmente sua área de engenharia industrial de São Paulo para o Rio porque quer crescer nesse e em outros negócios. Vê oportunidades em segmentos como saúde e construção para classes C e D, neste caso associando-se minoritariamente a empresas do setor com experiência na concessão de crédito.
Na área naval e offshore, a avaliação de executivos da indústria é de que o arrendamento do Mauá é um bom negócio para a Andrade - e também para Efromovich - porque estava cada vez mais difícil para o estaleiro fechar contratos por força dos problemas com a Petrobras. Uma fonte que conhece o Mauá afirmou: "German (Efromovich) está inibido pela Petrobras para concorrer diretamente em licitações abertas pela empresa."
Oficialmente, a Petrobras nega qualquer restrição ao Mauá. Sua assessoria de imprensa informou ontem que "não há impedimento para o estaleiro Mauá participar de licitações na Petrobras". Nos bastidores, porém, as informações têm sido contraditórias. Em 2009, o governo do Estado chegou a interceder em favor do Mauá quando surgiram informações de que estaria inabilitado para fornecer à estatal.
As relações entre a Petrobras e Efromovich, que nunca foram boas, pioraram depois que a Polícia Federal deflagrou, em 2007, a Operação Águas Profundas, que investigou esquema de fraudes em licitações para reparos de plataformas da Petrobras. Executivos do Mauá foram denunciados na operação. O diretor comercial do Mauá à época das denúncias, José Roberto Bello Simas, afastado da empresa, tornou-se réu no processo. Simas teria assumido a responsabilidade pelos fatos descritos na denúncia, por meio de confissão realizada por escritura pública.
A Águas Profundas foi mais um capítulo de uma longa história de brigas entre Efromovich e a estatal, a começar pelos contratos de arrendamento de seis plataformas de perfuração, conhecidas como Ametistas, entre a empresa Marítima, do empresário, e a Petrobras, em briga que terminou nos tribunais. Segundo fontes, recentemente o Mauá teve um novo desgaste com a Petrobras no contrato de R$ 1,2 bilhão para construção de uma gigantesca estrutura metálica (conhecida como "jaqueta" no jargão da indústria do petróleo). Essa estrutura pertence à plataforma de produção de gás de Mexilhão, destinada à Bacia de Santos. Uma fonte disse que o Mauá tentou cobrar valores adicionais no contrato e a Petrobras não aceitou, o que teria levado a empresa a se enfraquecer ainda mais perante a estatal.
Fonte: Valor Econômico/ Vera Brandimarte e Francisco Góes, de Nova York e do Rio
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